Muito antes da chegada do branco na África, os africanos já possuíam seus próprios sistemas educacionais. Cada família africana ensinava aos seus próprios filhos as habilidades necessárias para ganhar a vida e para fazer deles membros úteis e importantes à comunidade. Muitas vezes formavam-se organizações especiais para treinar os jovens nos costumes e tradições locais. A educação das crianças era tarefa doméstica e esta aprendia a preservar os valores do mundo dos mais velhos e de seus ancestrais. É com o advento do cristianismo que surge e se espalha por todo o mundo, a escola pública mantida pelos cofres dos municípios. Centenas de anos antes que os brancos trouxessem o seu tipo de sistema educacional para a África, já existiam universidades africanas no norte da África, e em Gao e Tombucutu, Antigo Mali. Ainda hoje, muitos livros omitem esse importante dado da história da educação africana ao afirmar que foi com a chegada dos brancos e devido a seus “esforços” missionários que se inicia a educação no continente africano. Nosso povo, ao iniciar seus filhos em um ambiente não-escolar, já sabia que a escola não é o único nem menos o melhor lugar onde a educação acontece. O termo educação extrapola os muros da escola e por isso também acredito que esse não é o local onde melhor podemos instruir nossas crianças pois é o espaço no qual experienciam mais ativamente relações de discriminação e preconceito. A escola posta como está no Brasil, está estruturada e organizada para o modo de vida dos opressores. A educação dentro desse sistema, contribui para confirmar a aparente legalidade dos atos dos brancos e por isso não serve para ser a educação do povo preto. Para isso, precisamos estar com nossas crianças o maior tempo possível e propiciar a elas momentos de contato com a natureza pois temos uma relação muito forte com essa força. Também devemos incentiva-las a ter o hábito pela leitura (contando histórias indo a bibliotecas, livrarias, bancas de revistas, dando livros de presente) e escutar as histórias contadas por outras gerações. O melhor que podemos oferecer para nossas crianças é a convivência familiar e entre pessoas que compartilhem a mesma ideologia de resistência e luta que possuímos. É essa a educação que defendemos para criarmos homens e mulheres pretos conscientes, fortes e guerreiros. Ao defender que as crianças pretas em sua primeira infância (0 – 6 anos), necessitem primordialmente da educação doméstica, não digo que nós não devemos freqüentar, a escola. Acredito que a escola formal tem sua importância em nossas vidas pois compete à ela transmitir e sistematizar conteúdos socialmente acumulados. Mas esse ambiente deve ser inserido na vida de nossas crianças a partir dos 6 ou 7 anos de idade, momento em que elas expressarem seus sentimentos, pensamentos e reflexões com maior complexidade, por mais democrática e com uma proposta “aberta a diversidade” que uma escola diz, ser, ela sempre estigmatiza e rotula nossas crianças. Nossa formação como homens e mulheres filhos da África, nossa visão de um mundo, independe da educação formal. Essa consciência temos devido a nossos pais, nossas vidas, nossos encontros. Por isso, mais uma vez afirmar o quão importante é termos nossos irmão, filhos, sobrinhos, junto de nós o maior tempo possível.
Mariana Semião
(UCPA – Nº 02 de 09/2002)
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