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sábado, 13 de março de 2010

UCPA 69 03/2008: Eugenia e o Processo de Branqueamento


EUGENIA


Em 1859 o naturalista inglês Charles Darwin publicou o livro "A origem das espécies", no qual, mostrou que no mundo animal, na luta pela vida, os mais bem adaptados e equipados biologicamente tem maiores chances de se perpetuar.
Porém as teses de Darwin foram usadas por teóricos racistas numa tentativa de explicar o comportamento humano em sociedade.





Com esse status científico o racismo proliferou como uma doutrina que inspirou governos e intelectuais. Surgindo assim o "darwinismo social", defendendo que havia uma hierarquia, apresentando no topo da pirâmide os brancos e burgueses como os mais inteligentes, os mais fortes, os mais bonitos, etc.




O primo de Darwin, o pesquisador britânico Francis Galton, apropriou-se de suas descobertas e desenvolveu uma ciência, a "eugenia".
A eugenia é definida como: o estudo das causas e condições que podem melhorar a raça, as gerações.
Francis Galton defendeu na nova ciência o aperfeiçoamento da espécie humana por meio de casamentos entre os "bem dotados biologicamente", para isso desenvolveu programas educacionais.





Muitos países usavam a eugenia como uma forma de eliminar os caracteres indesejáveis da sociedade. Pessoas defendiam que a inferioridade é hereditárias e a única maneira de "livrar" a espécie da degeneração era a adoção de leis de imigração. Não podemos esquecer que hoje muitos países mantém rígidas leis de imigração como: EUA, Espanha, França, Itália, Inglaterra, Japão, Canadá, Alemanha, Rússia, Austrália, entre outros.


OUTROS "PENSADORES"

Entre os defensores das teorias racistas, estavam: o francês Joseph-Auguste de Gobineau, o alemão Richard Wagner e o inglês Houston Stewart Chamberlain.
Para explicar a sociedade humana eles defendiam que alguns grupos humanos eram fortes, e teriam herdado certas características que os tornavam superiores, possuíam o direito de comandar e explorar os outros povos que eram fracos.
Defendiam que os "fracos" seriam "inferiores", e predestinados a ser comandados.
No decorrer da primeira metade do século XX, surgiram outros defensores dessa teoria, como: Alfred Rosenberg, autor de o "Mito do Século XX", publicado em 1930; e Adolf Hitler, autor de "Minha Luta", publicado em 1934.
As teorias racistas serviram de suporte para justificar o colonialismo, a escravidão, o neocolonialismo, o apartheid, etc.

O DESAPARECIMENTO DOS PRETOS ARGENTINOS

Na Argentina os pretos desapareceram, lá a abolição da escravatura ocorreu em 1853, portanto 35 anos antes do Brasil.
Segundo a historiadora "Claudia de Castro Lima", em 1778, em algumas regiões argentinas a população negra chegava a 54 %.
Após serem encaminhados para frente de batalhas, como nas guerras dos espanhóis contra os ingleses e nos "batalhões dos libertos" no processo de independência e unificação, esse número foi reduzido drasticamente.
Após a abolição, os pretos foram direcionados para os guetos em condições de extrema miséria, ficando expostos à epidemias como a de febre amarela ocorrida em 1871.
Isolados e impedidos de sair pelos soldados, muitos morreram sem atendimento médico.
"Jorge Lanata", jornalista argentino, fundador do diário “Página/12” é autor de "Argentinos", lançado em 2002. Ele define os pretos como "los primeiros desaparecidaos", em referência aos mortos da ditadura recente. Segundo os números apresentados em sua obra: no censo de 1778, 30% da população tinha origem africana. A proporção se mantém no censo de 1810, cai para 25% em 1838. Em 1887, repentinamente, compõe menos de 2%.
Com praticamente o extermínio total da população preta masculina, as mulheres passaram a se relacionar com brancos, muitos dos quais imigrantes europeus, desses relacionamentos os filhos gerados eram registrados como brancos, assim as estatísticas acabaram apontando o sumiço da população preta na Argentina, sendo um motivo para "comemoração", pois o país tornava-se um "exemplo" na América. Porém até hoje existem alguns argentinos que carregam um traço africano.



No quadro a "Redenção de Can"(1895, avó negra, filha "mulata", genro e netos brancos), o autor "Modesto Brocos y Gomes, expressou a proposta defendida por muitos. Para o autor, a cada geração o brasileiro ficaria mais branco.


A EUGENIA NO BRASIL

O grande divulgador da eugenia no Brasil foi o médico paulista Renato Kehl.
No Brasil a eugenia era vista por políticos, cientistas e intelectuais brancos como um caminho para tornar o país "civilizado".
Uma conferência realizada por Kehl na Assocoação Cristã de Moços de São Paulo, impulsionou a fundação da SESP (Sociedade Eugênica de São Paulo), em 1918, contando com cerca de 140 associados, entre os associados da SESP estavam Arnaldo Vieira de Carvalho (fundador da Faculdade de Medicina de São Paulo), Arthur Neves (sanitarista), Franco da Rocha (psiquiatra) e Fernando de Azevedo (educador).
'José Correia Leite", em "...E e disse o velho militante José Correia Leite", cita que:
"Estudiosos como Oliveira Vianna tratavan da formação da nacionalidade mencionando o branco como "raça superior". O Brasil foi formado por três raças. Acontece que, das três , duas são consideradas inferiores e uma superior. Esse predomínio veio por muito tempo. O negro era aceito por bondade, por caridade. Quando um branco dava um sorriso para o negro, o negro tinha que aceitar aquilo como favor. Se ele gostava do negro, o negro tinha que aceitar aquilo como um favor. É um dos preconceitos mais safados que pode haver. Eu mesmo já tive ocasião de discutir com branco e ouvir:
_ Preconceito não existe. Tanto que você é nosso amigo.
Mas o negro no Brasil não teve grande consciência disso. É o tipo do preconceito brasileiro. E a luta na época da minha militância era discutir a existência do problema no Brasil. Os primeiro chefes da nação brasileira na República, os que ficaram com a responsabilidade do abandono dado ao negro, nunca se preocuparam com isso. Eles podiam ter amaparado pelo menos a última geração saída da escravidão. Para justificar essa omissão inventaram a história de que o negro, dali não sei quantos anos, ia desaparecer. E até hoje estou esperando o negro desaparecer. Eu estou vendo é que está aumentando. Houve um tempo em que se ouvia muita gente dizer que a nossa luta não tinha razão de ser porque o negro ia desaparecer. Foi uma ideia gerada por estudiosos.
Quando eu militava, nunca me baseei nas palavras, nos conceitos dos teóricos, para levar a minha luta. Era muito comum se falar de Nina Rodrigues, um antropólogo que sempre viu negativamente o negro em seu estudos. Só que, de minha parte, eu nunca fui procurar os estudiosos, embora mais tarde tivesse tido contatos. Mas nunca por minha iniciativa...'.

MONTEIRO LOBATO E A PODA DA HUMANIDADE



Monteiro Lobato defendia a eugenia, para ele como a vinha a humanidade precisava de poda.
Em "O choque das raças ou presidente negro", de 1926, seu único romance, Monteiro Lobato, apresenta uma trama futurista, onde é eleito o primeiro presidente negro nos EUA, no ano de 2228.
Na "obra" o autor defende os ideais da eugenia.
Monteiro Lobato era amigo do médico Renato Kehl. Para ele os problemas morais seriam resolvidos com a eugenia.


Alaru Jagunjagun Oniluap (UCPA)


FONTES DE PESQUISA:
BENTO, Maria Aparecida Silva. "Cidadania em Preto e Branco". São Paulo: Ática, 1998.
DIWAN, Pietra. "Eugenia, a pseudo-ciência a serviço do racismo". Revista História Viva. Duetto, Ano V. n. 49.
MOURA, Clóvis. Dialética Radical do Brasil Negro". São Paulo: Anita, 1994.
LEITE, José Correia e SILVA, Luiz (Cuti). "...E disse o velho militante José Correia Leite: depoimentos e artigos". São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
LIMA, Claudia de Castro. "Onde foram para os negros argentinos". Revista Aventuras na História. Abril. n. 22, junho/2006.

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