INDÍCIO DA EXCLUSÃO EM SÃO PAULO
'Não obstante tantas, e tão draconianas regras, os negros em particular, e os pobres em geral, seguiam tentando sobreviver, sociabilizar-se, manter sua identidade cultural e religiosa. Ao longo da segunda metade do século XIX, as atividades festivas se faziam presentes de formas diversas. Nas procissões de Bom Jesus de Pirapora os negros da Capital tinham contato com a música do interior. Surge o Samba de Pirapora, que vem para São Paulo através do Largo da Banana (atual Barra Funda) e a partir daí são criadas as primeiras escolas de samba (Marcelo Simon Manzatti. Samba Paulista, do Centro Cafeeiro à Periferia do Centro. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2004. Dissertação - Mestrado). No entanto, os brancos pobres livres e os negros não-cativos viviam espremidos entre duas classes mais importantes daquela sociedade bipartida: o senhor e o escravo. Com o agravante, para os não-brancos, de estarem em uma sociedade construída, em todos os aspectos, para a não aceitação deles como trabalhadores livres, alguém que, independentemente de qualquer esforço pessoal, dele ou de brancos que porventura simpatizassem com sua causa, era um marginal. À medida que a sociedade se sofisticava, que a pequena e inexpressiva vila, sob os auspícios da fortuna do café, se tornava cidade, menos lugar havia para o negro que não estivesse "no seu ligar": a escravidão. Por isso, a necessidade de aprofundar a normatização, a repressão, a organização, a expulsão do negro incômodo dos lugares reservados à "gente de bem", num conjunto de ações que não eram inéditas (Leila Mazan Algranti descreve a repressão a escravos e forros no Rio de Janeiro no início do século XIX, semelhante ao que ocorreu em São Paulo no período estudado. Leila Mazan Algranti. Op. cit. p. 193.).'
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JACINO, Ramatis. "O Branqueamento do Trabalho".
São Paulo: Nefertiti, 2008.
p.128/129
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