"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Tradição Nacionalista em Chicago - "O Poder Negro" Essien-Udom

Durante a primeira onda de intensa agitação nacionalista - por volta de 1915 a 1930 - os movimentos de Garvey e do mouros ganharam grande número de aderentes em Chicago. Entretanto, nenhum deles recebeu o apoio da maioria do povo da comunidade negra de Chicago. Além desses, houve dois ou três outros grupos nacionalistas naquela mesma cidade. Um grupo de negros que se intitulavam "abissínios" conseguiu uma posição significativa as associações menores.


A existência dos "abissínios" despertou a atenção pública pela primeira vez num tiroteio dramático onde pereceram duas pessoas, na tarde de domingo, 20 de junho de 1920. A esse incidente seguiu-se uma parada e cerimônia em que os abissínios deliberadamente queimaram duas bandeiras dos Estados Unidos. Um soldado negro da polícia foi ferido e várias outras pessoas receberam escoriações. Grover C. Redding, que foi considerado como o líder, e seu colega, Oscar McGavick, foram acusados de assassínio por um grande júri.
Um estudo feito pela Comissão sobre Relações Raciais de Chicago descreve o movimento abissínio como "um filho ilegítimo" do movimento de Garvey. O Chicago Tribune procurou ligar o incidente abissínio com os " 'vermelhos' raciais" e também com os escritos de W. B. DuBois.
O movimento de retorno à Abissínia era semi-religioso e nacionalista, e Redding foi líder leigo como religioso. Afirmava que era profeta e nativo da Etiópia. Dirigindo-se ao tribunal, durante seu julgamento, Redding afirmou o seguinte quando à sua missão:
'Minha missão está registrada na Bíblia. Mesmo que eles me tenham capturado, outros líderes ergue-se-ão e os conduzirão de volta para a Africa. A Bíblia diz, "Assim deixe que o Rei da Assíria leve embora os prisioneiros egípcios e os cativos etíopes, jovens e velhos... para a vergonha do Egito". Os etíopes não são daqui e serão levados de volta para seu próprio país. O tempo deles terminou em 1919. Eles chegaram em 1619. A Bíblia esclarece que eles deveriam aparecer em trezentos anos. E chegado o tempo. A queima da bandeira por mim, no último domingo à noite, é um símbolo de que os abissínios não são desejados neste país. Aquele foi o sinal falado na Bíblia'.
O papel de profetas é particularmente atrativo aos líderes das massas negras. Os da classe baixa são um tanto "supersticiosos" e os líderes exploram suas susceptibilidades  religiosas. Entretanto, a maioria destes líderes não conta com "status" social significativo e prestígio que empreste credibilidade e legitimidade à sua liderança. Os outros líderes deste movimento eram Joseph Fernon,  e um "doutor" R. D. Jonas, um homem branco.
A crença dos abissínios de que são etíopes e não negros é um  recurso óbvio para evitar a denominação "Negro" com todas as conotações de inferioridade. O diferenciar-se de sua "negrice" tornou-se um meio de escapar ao abuso e insultos dos brancos. Por um dólar,  um membro poderia comprar uma bandeira abissínia, um pequeno panfleto contendo uma profecia relativa à volta do povo de pele escura à Africa, um pretenso tratado entre os Estados Unidos e a Abissínia, e uma fotografia do "Príncipe dos abissínios". Além disso, qualquer membro poderia inscrever-se para retornar à Etiópia a fim de preencher qualquer uma das quarenta e quatro profissões, como químico, engenheiro civil, mecânico, criador de galinhas, professor, caricaturista etc.
A parte destes objetivos vulgares, não se percebem atividades concretas para se conseguir o objetivo de retorno à Abissínia. Os ensinamentos esotéricos dos abissínios realçaram suas ligações com a "fonte de civilização - bastante curioso, Israel via Etiópia - e a expectativa de sua redenção depois do apocalipse quando "o povo escolhido de Deus estará muito bem". A afirmação de ligação com o "sagrado" assim como com a fonte da civilização eram meios de acentuar o amor próprio e "status". Talvez a via mestra do movimento fosse sua pregação do ódio para com o homem branco e sua rejeição do rótulo pejorativo de "Negro". O movimento abissínio recebeu pouco apoio dos negros e agora parece ter desaparecido inteiramente, substituído por outras organizações interessadas na repatriação do negro para a Etiópia.

Essien-Udom, E. U. "O Poder Negro". 
Tradução: Sylvio Monteiro. 
São Paulo: Senzala. p. 63 - 65

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