"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Lembrando Nina, com amor e revolta… (Abisogun - 19/8/16 - UCPA)


Para nós, povo africano na diáspora, muito por conta da experiência do infame comércio de gente e da consequente escravização, fazer arte sempre foi um paradoxo; pois transitamos em uma linha tênue que separa arte e política. Sem sombra de dúvida, o povo africano é o maior produtor de cultura do Ocidente, talvez tal fato tenha se dado pela tentativa de fugir da dor, da solidão e do desamparo. Por esse motivo, a nossa cultura tem um ethos de tristeza; principalmente a música. Tristeza que é canalizada e verbalizada como uma ferramenta de luta, um instrumento de libertação. O que desagrada o senhor de escravos. Pois querem nossa música, nossa cultura, nossa fantástica capacidade de proporcionar felicidade, mas não querem, de jeito algum, a liberdade dos nossos corpos e mentes… Dentre toda a tradição de artistas africanos na diáspora, com risco de erro, Nina Simone talvez tenho encarnado o que seria a síntese do paradoxo anteriormente citado, uma vez que ela fez música, fez o melhor jazz que já se ouviu por essas bandas do mundo, e fez política, fez política radical, pregou a libertação negra e a aniquilação da supremacia branca… Seria uma arte engajada, como diria os críticos, ou seria a própria condição da existência preta no mundo? Tanto que, em um momento de ebulição revolucionária, fora considerada a “poeta da revolução…”. Nina, assim como vários outros irmãos pretos, pagou um preço alto por ousar fugir da fronteira que lhe fora imposta e, principalmente, por atacar a supremacia branca. O “grande pai branco” não aceita críticas! E o demônio, oriundo dos cáucasos gelados, movimentando a sua famigerada máquina de moer carne e alma da gente preta-africana, destruiu Nina Simone, jogando-a no ostracismo… Fazendo dela um bagaço de gente… Como fez com muitos outros… Porém, ela foi uma combatente que fez as suas escolhas e que não vacilou quando o assunto foi a liberdade do seu povo. É certeza que não se arrependeu… “Quem bebe das águas da liberdade jamais se arrepende…”, diz o provérbio africano. A nossa Nina, com sua pele de ébano e sua expressão e porte de rainha, movimentou multidões com a sua voz e continua movimentando pessoas pretas em várias partes do mundo; desta forma, fez a sua parte e deu a sua parcela de contribuição na luta permanente pela vida preta. E você, preto? E você, preta? Qual é a sua parcela de contribuição? Neste sábado, a nossa parcela de contribuição, enquanto organização pan-africana, dentre outras coisas, vai ser rememorar o significado da vida e do legado artístico e revolucionário de Nina Simone: uma africana retinta que usou os dedos e a voz como arma de luta. Axé, povo preto!!!

(Abisogun - 19/8/16 - UCPA)

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