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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Pan-Africanismo por essência: Partido dos Panteras Pretas (Tati Nefertari - UCPA - AGO/2016)

Pan-Africanismo por essência: Partido dos Panteras Pretas
(Tati Nefertari - UCPA - AGO/2016)

Quando falamos nos Panteras, as primeiras analises que surgem são de que eles eram um grupo radical de pretos comunistas, maoístas e outras analises que seguem o mesmo caminho, o que não é difícil de entender quando analisamos o contexto dos EUA pós segunda guerra e guerra fria. É através desse contexto que podemos encontrar a ligação deles com o comunismo, mas para, além disso, é necessário que façamos uma analise que vá na essência e nas raízes de quem era/foi os Panteras pretas.
Criado em 1966, os Panteras surgem como resultado da luta dos direitos civis, onde o racismo, pobreza, segregação, linchamento e a violência policial caracterizava a vida do povo preto nos EUA, se opondo a integração e ao movimento de não violência, foram influenciados por outros grupos de revolucionários pretos, em especial Malcolm X. Era através das filosofias e posições de Malcolm que os Panteras se baseavam, Bobby Seale declarou que “Sem Malcolm X o partido não teria surgido” e não so Seale, mas era unanime entre todos os membros, sendo capa então do jornal do partido, com a seguinte frase: “Malcolm X teve um impacto profundo na missão revolucionaria do Partido dos Panteras Pretas “.
Malcolm X era nacionalista preto e muçulmano da nação do Islã, que por sua vez foi influenciada por Marcus Mosiah Garvey e sua organização. Foi uma das vozes mais ouvida e respeitada nas comunidades pretas.

Poder Preto (Black Power)

Os Panteras eram adeptos do Poder Preto e viam a comunidade preta como uma colônia e concordavam sobre a necessidade de autodeterminação, pois precisavam desenvolver suas próprias fontes de força politica, econômica e cultural, por mais que seu slogan tivesse sido “todo poder ao povo” eles explicaram, mas precisamente nas palavras de Fred Hampton que todo poder ao povo era: “Poder preto para as pessoas pretas, poder amarelo para as pessoas amarelas...” e sendo uma organização revolucionaria nacionalista preta, eles defendiam e lutavam pelo poder preto.
Stokely expos o poder preto da seguinte maneira: “Para nós, o poder preto implica que nos libertemos das estruturas racistas e opressivas do poder branco. Isso exige que possamos controlar nossas coletividades Afro-Americanas, que possamos dirigir nossos próprios negócios, que tenhamos um poder de decisão no que concerne a politica e a economia”.
Viam a necessidade de criar uma organização que derrubasse o governo e colocasse o poder nas mãos da comunidade preta, chegaram a apresentar um plebiscito preto com o objetivo, de acordo com Eldridge Cleaver, de dar aos pretos a oportunidade de decidirem se queriam a criação de uma nação soberana própria, uma nação preta. Malcolm também já havia divulgado esse conceito. É então a partir daqui que surgiram seus programas e ações.

Programa dos 10 pontos

O programa de 10 pontos dos panteras, cujo titulo era “O que queremos agora! No que acreditamos” delineava os objetivos do partido, sendo elaborado através da influencia dos 10 pontos feito por Malcolm X para a nação do Islã, intitulada de “O que os muçulmanos querem” onde permaneceu apenas o caráter nacionalista de Malcolm/Nação do Islã.
O programa mostrava como a comunidade poderia ganhar poder e se organizar, mas também mostrava os propósitos do partido que foram colocados em praticas através de seus outros programas.

Programas dos Panteras

Ao decorrer da existência do partido, os panteras criaram e deram desenvolvimento a diversos programas como: Escolas de libertação, clinicas de saúde gratuitas, programa de distribuição de alimentos gratuitos, programa de vestimenta gratuita, centros de desenvolvimento para crianças, programa de calçados gratuitos, programa de ônibus gratuito para visitação a presos, fundação de pesquisa de anemia falciforme, cooperativas de habilitação gratuitas, programa gratuito de controle de praga, patrulhas comunitárias, e o seu programa de maior visibilidade, o café da manhã gratuito para as crianças.
O café da manhã gratuito para as crianças foi o primeiro programa dos panteras a ser realizado no final de janeiro de 1969, sob o comando de Seale. Quando Seale foi preso em agosto de 1969, David Hilliard que era chefe de gabinete passou a coordenar e deu prioridade no desenvolvimento dos programas. David via os panteras como uma família, o que de fato era, devido as tradições comunais (Comunalismo Africano) que ele havia vivido no Sul rural negro com sua família. Foi através dessas suas experiências que Hilliard deu crescimento aos diversos programas comunitários dos Panteras.
Os programas eram oferecidos nas varias filiais do partido, as vezes durante pouco tempo devido aos ataques constante que os Panteras sofriam, mas todos as filiais ofereciam o programa de café da manhã gratuito para as crianças.
O programa de café para as crianças chegou a alimentar, segundo os dados dos Panteras, VINTE MIL crianças no ano de 1969. A alimentação era feita com doações de supermercados e empresas locais e oferecidas em igrejas locais da comunidade, aqueles estabelecimentos que se recusavam a ajudar sofria com boicotes e piquetes, e envergonhamento diante ao publico via jornal dos Panteras, como alguns xingamentos do tipo "porco capitalista" e "religiosos hipócritas" e assim possibilitava o recebimento de muitas doações.  O programa destacava que a fome era um dos fatores que prejudicava no aprendizado das crianças, pois elas não conseguiriam aprender alguma coisa de estomago vazio, e atacava também o grave problema que era a fome infantil. Para a realização do café os Panteras chegavam ao local pela manhã, bem cedo, para prepararem as coisas para que a comida estivesse pronta nas chegada das crianças, e muito dos Panteras tinham que buscar as crianças em casa e após ao café leva-las para a escola. Durante a refeição, enquanto as crianças se alimentavam, os Panteras ensinavam lições de libertação através das mensagens do partido e ensinavam sobre a historia do nosso povo preto.
Após o sucesso do café da manhã, o partido iniciou o programa das clinicas de saúde, pois a população preta não eram atendidos pelo sistema de saúde local, e quando atendidos tinham um serviço muito precarizado, muitas pessoas nunca haviam ido ao a uma visita medica. As clinicas dependiam de serviços voluntários de médicos locais, enfermeiras e doações da comunidade, os serviços prestados eram: primeiros socorros, exames físicos, pré-natal, teste de envenenamento por chumbo, teste de pressão alta e anemia falciforme. Existiam pelo menos 11 clinicas e muitas levavam nomes de Panteras assassinados pela policia, como a clinica de Bunchy Carter de Saúde. Algumas além dos exames promoviam discussões sobre relações sociais do povo preto, como relações entre homens e mulheres e preocupações da juventude preta.
Permanecendo ainda na área da saúde, os Panteras criaram sua fundação de anemia falciforme que era uma doença que atingia cerca de 1 a cada 500 pessoa preta, levando campanhas de conscientização sobre a doença que levou a comunidade a aprender sobre a doença e se cuidar. A assistência medica dos Panteras incluíam também esforços para combater o vicio em drogas e muita das vezes eram liderados por ex viciados em drogas, que diziam que as drogas eram plano do opressor para garantir a nossa escravidão.
Um outro programa que se destacava era o programa de ônibus gratuitos para a visitação dos presos que ajudou muitos pretos encarcerados a manterem contatos com a família, já que o custo era muito alto para as passagens  e muitas família não tinham condições para isso. O programa tinha vários objetivos, dentre eles o de manter o contato dos presos com sua comunidade os ajudando na sua reabilitação, nesse sentido Ronald Stark argumentava: "Só porque um Irmão ou uma Irmã cometeu um crime é correto que eles sejam afastados de suas famílias, amigos e da comunidade sem nenhuma comunicação?" Outro objetivo era denunciar e alertar para a prisão injusta de um numero desproporcional de pessoas pretas, e das prisões injustas dos Panteras. Além disso era oferecido aos presos um programa de comissário gratuito, onde haviam serviços de advogados e doações de produtos de higiene pessoal e alimentos. Esse programa foi inspirado no programa da nação do Islã tido como exemplo o Irmão Malcolm e outros presos.  
Os Panteras criaram também as escolas de libertação, e lutaram bastante para torna-las eficazes, essas escolas ensinavam as revolução do Poder Preto, incluindo conhecimentos de historia preta, atendendo crianças do jardim de infância ate o fundamental, além de suas aulas de reforço. A escola do partido no Blooklyn implantou no currículo escolar uma grade afrocentrada, onde ensinavam além das historias africana, danças também.
Devido a experiência de muitos Panteras nas escolas, todos sabiam da necessidade de reeducar o povo preto que todo esse tempo havia tido uma educação falsa e sucateada, uma educação de obediência para continuarem escravos que era o sistema do poder branco os ofereciam.
Ao decorrer da criação e desenvolvimento dos programas, todos eles foram atacados, de todas as maneiras possíveis, seja física com os policias jogando bombas, ou seja com o governo distribuindo informações caluniosas. Mas foi através de seus programas que os Panteras como organização se mostraram nacionalistas pretos e sua ligação com outras organizações como a Nação do Islã e com o movimento de Garvey.

 Quem foi os Panteras Pretas?

Como Mumia Abu Jamal relata: "Nunca houve um só partido, mas mais de quarenta e cinco; núcleos e seções vivendo suas próprias peculiaridades e idiossincrasias locais, dispersos por todo o território dos Estados Unidos, com uma ramificação na Argélia, no norte da África, todos reunidos em uma só busca por um ideal revolucionário"
Eram um grupo de revolucionários, nacionalistas pretos, que estavam disposto a morrer pelo que defendia, pela total libertação do povo preto, pela completa libertação. Contra toda a estrutura racista do poder branco vicioso, para além de ideologias politicas, o comprometimento com a comunidade preta e com sua libertação era o que os guiava, ou como gostavam de dizer: "O Partido dos Panteras Pretas se consideravam uma organização nacionalista preta revolucionaria e levava a herança ideológica de Malcolm X"
A maioria dos membros entraram para o partido por causa do seu ideal, pelo ideal do Malcolm. Como podemos observar no caso de Lumumba Shakur, lider da seção do Harlem e Sekou Odinga lider da seção do Bronx, ambos faziam parte da OUAA Organização de Unidade Afro-Americana de Malcolm X, e entrou no partido apos a morte de King, pois procuravam uma organização que exemplificasse a visão e direção de Malcolm e seu amor pelo povo preto.
Eles faziam parte da Filial de Nova Iorque, que era uma das maiores, mais ativas e mais eficazes dos Panteras, onde a maioria (se não todos) usavam nomes Africanos, seus verdadeiros nomes no lugar do nome obtido como escravos. Alguns exemplos são: Kuwasi Balagoon, Abayama Natara, Baba Odiga, e entre eles tambem estavam Afeni Shakur. Isso tem muito a nos dizer!
Os Panteras Pretas eram Pan-Africanistas por essência, e suas ações nos mostram com a mais obsoluta certeza, é essa essencia que os mantém vivos, essa mesma essência que vem nos mantendo vivos e unidos, que fez surgir os Novos Panteras Pretas (declarados, Pan-Africanistas) Unidade e Poder Para o Povo Preto.

Libertem Mumia Abu Jamal!!!

(Tati Nefertari - UCPA - AGO/2016)

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