"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

sábado, 15 de julho de 2017


Carmen Pereira (1937-2016) foi uma mulher preta e africana, nascida em Guiné-Bissau, que usou a sua vida para defender o seu povo e o seu território, nacionalista africana, guerrilheira e, por uma questão de princípios, uma pan-africanista por essência; integrou o movimento revolucionário, junto com Titina Sillá e Francisca Pereira, PAIGC (Partido Africano pela Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde) e, portanto, participou ativamente na dura guerrilha contra o colonialismo e racismo português. Chegou a ser, no ano de 1984, após a independência do país, presidente em exercício de Guiné-Bissau; entrando para a história como a primeira mulher a presidir um país africano, na era moderna, e única a presidir Guiné-Bissau. A luta sempre esteve presente na vida de Carmen Pereira, pois ele cresceu tendo como exemplo o seu pai que, com muitas dificuldades, se tornou um dos poucos advogados pretos existentes em Guiné-Bissau, naquela época, colônia de Portugal. Mas tarde ela haveria de se casar, ainda muito jovem, e o sentimento de indignação frente ao racismo branco e o nacionalismo preto que transpirava em todos fez com que o casal logo entrasse no movimento de libertação. Nesse primeiro momento a atuação foi moderada, pois ficaram no campo da análise e organização; o que mudou pouco tempo depois, uma vez que na medida que o colonialismo ia tomando formas mais agressivas a resistência radical e armada se fez necessária. E em 1962 a irmã Carmen Pereira entrou para o PAIGC e logo se tornou uma pessoa ativa e importante no movimento; com armas em punho. Devido a tradição de resistência, por parte das mulheres africanas, o PAIGC criou uma cultura que visava igualar homens e mulheres em suas fileiras, assim Carmen se tornou uma líder das mulheres e peça chave na luta por independência. A atuação de Carmen transcendeu os limites geográficos das colônias portuguesas e ela se tornou a líder e delegada na Organização Pan-Africana de Mulheres na Argélia (organização pan-africanista que agregava mulheres de várias partes da África); pelo seu protagonismo na luta de libertação, em muitos casos tendo a sua importância no mesmo nível que a de Amílcar Cabral, Carmen Pereira passou a ser duramente perseguida pela PIDE, polícia política de orientação fascista responsável por desmantelar a resistência nas colônias portuguesas, teve que, com o coração na mão por ter que abandonar os seus irmãos no campo de batalha, fugir do país. Nesse época, ela morou no Senegal, por um tempo, e logo depois partiu para estudar medicina na União Soviética. Após voltar da União Soviética, Carmen Pereira continuou os seus trabalhos junto ao PAIGC e após a independência ela ocupou vários cargos no governo, como por exemplo, Ministra da Saúde e Assuntos Sociais, Presidente da Assembleia Nacional, foi também responsável pela promulgação da Constituição da República de Guiné-Bissau, Presidente do Parlamento de Cabo Verde e Guiné-Bissau, membro do Conselho de Estado, Vice-Primeira Ministra e Presidente em Exercício, em 1984. Estudar e entender a história de Carmen Pereira, Titina Sillá e Francisca Pereira, é entender o papel das mulheres na causa pan-africana e na luta de libertação do povo preto, seja na África, seja na diáspora. Sabemos que a violência histórica imposta aos nossos ancestrais e aos nossos iguais, nos dias de hoje, não tem precedente na história da humanidade, entretanto, mais do que isso, é importante sempre lembrar que a resistência promovida pelo nosso povo preto também não tem precedentes na história. Carmen Pereira é uma referência pan-africana, pois ela poderia, em sua juventude, ter seguido outros caminhos que lhe apetecesse, porém ela trilhou o caminho da luta coletiva, em amor aos seus e não na busca por interesses próprios. Vida longa a essa nossa irmã preta; Carmen Pereira, uma pan-africanista por essência.

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