"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

sábado, 15 de julho de 2017


Andresa Maria de Sousa Ramos, mais conhecida como Mãe Andressa (1850-1954) foi uma mulher preta africana, nascida em Caxias, Maranhão, que liderou durante 40 anos a casa de culto aos voduns, divindades africanas do povo jeje, conhecido como a Casa das Minas (Querebentã de Zomadônu, nome em fon); durante todos esses anos ela manteve viva a cultura, o estilo de vida e a filosofia dos povos jeje (fon, mina e ewe), etnia originária do antigo reino do Daomê. Mãe Adressa foi a última princesa africana da linhagem direta do povo de língua fon; e ficou conhecida como uma das principais nochê (sacerdotisa da tradição de voduns) da diáspora africana e a quarta mulher a comandar a Casa das Minas; foi a última vodunsi-gonjaí e o seu nome africano, que segundo a tradição dos povos jeje é dado pelo próprio vodum, era Rotópameraçuleme. A Casa das Mina, terreiro de tradição essencialmente matriarcal, onde apenas as mulheres podem chefiar e comandar os trabalhos comunitários e religiosos, foi fundada no início do século XIX por Nã Agotimé, rainha africana do Daomé, mãe de Gezo, o rei do Daomé, que, após conflitos sucessórios, foi vendida para comerciantes de escravizados e trazida para a Bahia, ilha de itaparica, onde recebeu o nome de Maria Jesuína, e de lá foi para o Maranhão, onde fundou o templo destinado a cultuar os deuses e ancestrais do seu povo, especialmente o seu vodum familiar: Zomadônu. Andressa era descendente direta de Nâ Agotimé. Durante o infame comércio de gente preta para as Américas, foram trazidos para o Brasil africanos das mais variadas etnias e com as mais diversas tradições e complexos civilizatórios; dentre estas, as que mais se destacaram e criaram raízes profundas com frutos perenes foram as tradições dos n’kises, divindades dos povos banto, os orixás, divindades dos povos iorubás, e os voduns, divindades dos povos jeje. Pela dedicação e esforços de mulheres pretas, guerreiras, camponesas e rainhas, aqui convertidas em escravizadas e pequenas comerciantes, essas tradições civilizatórias foram preservadas; e a Casa das Minas, seja sob o comando de Nâ Agotimé, seja sob orientação e comando de Mãe Andressa, é a prova viva que a selvageria branca não conseguiu suprimir a nossa capacidade de resiliência e luta incansável e imbatível contra o racismo e o colonialismo branco europeu. O trabalho e as experiências religiosas dessas mulheres africanas que, não mais em suas terras, construíram templos religiosos, verdadeiros palácios ancestrais, para que os povos africanos de várias outras etnias pudessem reviver a suas tradições e reencontrar os seus deuses, parentes e pais, inquestionavelmente, são as mais autênticas experiências pan-africanas da diáspora, ao lado dos quilombos, portanto, entendemos que a irmã e sacerdotisa do culto aos voduns Mãe Andressa foi uma pan-africanista por essência, pois ela cultivou e trabalhou em prol de algo que pudesse agregar o povo preto; além de fazer o resgate direto das tradições do Daomé, fazendo da Casa das Minas um pedaço da África, agora, um território multiétnico, entre outras palavras, um pequeno Estado pan-africano.


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