"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

sábado, 15 de julho de 2017


Frances Ellen Watkins Harper (1825-1911) foi uma mulher preta-africana, nascida livre em uma América escravista, na cidade de Beltimore, Maryland, que, além de ferrenha abolicionista, sufragista preta e defensora do direito das mulheres pretas, foi professora, poeta, contista, ensaísta e autora de livros diversos; defendia abertamente que o Estado tinha o dever de operacionalizar reformas progressistas para ressarcir e inserir os ex-escravizados; o incluível foi que ela fez tudo isso em um país patriarcal, machista, extremamente racista e escravista. Fundadora de uma organização política de mulheres pretas, por nome de Associação Nacional de Mulheres de Cor, em 1894. Ela defendia o direito das mulheres e tinha polêmicas com as sufragistas brancas que além de não apoiarem as mulheres pretas ainda defendiam os linchamentos dos homens pretos. Uma das principais bandeiras da organização polítca de Frances Harper era pressionar o governo para a aprovação de uma lei anti-linchamento. Seu primeiro livro de poesia, escrito aos 20 anos de idade, foi Forest Leaves (1845); porém o reconhecimento e fama viria anos mais tarde com o popular Poems on Miscellaneous Subjects (1854), reimpresso várias vezes. Fora da poesia, a sua principal obra foi o romance Iola Leroy, publicado já em idade avançada, aos 67 anos; considerado o primeiro romance de um africano nos Estados Unidos. Órfãs de pais, ela foi criada pelos tios; e é nessa época, na infância, que se cria as bases psicológicas, e nisso ela teve a forte influência do seu tio, o abolicionista Rev. William Watkins, que era também um ativista de direitos civis do pretos libertos. Como abolicionista, a principal atividade de Frances, como integrante e palestrante da Sociedade Americana Anti-Escravidão, foi ajudar na fuga de africanos escravizados na Estrada de Ferro Subterrânea rumo aos estados do norte e Canadá. As estradas de ferro subterrâneas era um complexo de tuneis, construídos, nos fins do século XVIII e durante parte do XIX, por africanos escravizados e abolicionistas, que ligavam o sul escravista ao norte que, até então, havia abolido a escravidão africana e ao Canadá, país em que não havia o regime escravagista; estimativas apontam que cerca de 100.000 africanos conseguiram a liberdade usando de tais meios de fuga. Após a Guerra de Secessão (1861-1865), que estabeleceu a abolição da escravidão africana nos Estados Unidos da América, a irmã Frances Harper, que tinha a sua área de atuação no norte, passou a viajar pelos estados do sul para acompanhar a situação social, econômica e cultural dos africanos recém-libertos. Tudo que ela via, toda a crueldade que pesava sob as costas desses africanos, como humilhação, fome, violência, prisões arbitrarias, linchamentos e estupros, por parte de brancos derrotados e ressentidos, verdadeiros “demônios supremacistas!”, como brandou, um século depois, o irmão Malcolm X, enfim, tal situação era descrita em seus ensaios, poesias e produção literário por um todo. Se teve alguém que conseguiu captar a alma das pessoas pretas, assim como as suas angustias e esperanças de fuga para o norte, foi a irmã Frances Harper: uma pan-africanista por essência; pois, famosa e prominente com a sua produção literária, ela poderia se dar ao luxo de desfrutar os louros da fama no norte, longe da perseguição dos confederados, embriões da Ku Klux Klan, porém como era uma irmã amante de sua origem e povo, uma autêntica pan-africanista por essência, ela se viu na obrigação de estar junto aos seus e auxiliá-los no que fosse possível, mesmo que fosse apenas descrevendo para o restante do país as terríveis condições de vida que estavam sendo impostas aos homens e mulheres que construíram e mantiveram o país por quase trezentos anos. Frances Harper serviu de inspiração e referência para muitas mulheres pretas que no decorrer do século XX, ao lado dos homens pretos, lutaram uma batalha titânica contra os brancos mais poderosos do mundo, sem medo e sem retroceder, muitas das vezes vencendo, apesar de toda a adversidade imposta pelo ocidente. Como dizem as irmãs pretas mais velhas: “nossos passos vem de longe”.

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